11 novembro, 2010

"Surra de filé"

Quando eu ainda era criança, com mais ou menos nove anos, tive broncopneumonia, fui internada na Santa Casa, que ficava 10 km da Usina Jacarezinho (Pr.) local onde eu morava. Foi um martírio ficar "naquele" lugar, todas manhãs uma freira (que parecia uma pombinha)  me levava para uma sala com janela baixa, me colocava uma máscara para inalação e lá ficava eu, no meio de uma nuvem fria, sozinha. Numa dessas manhãs, tomei uma decisão: fugi! Sai dali de pijama, chinelinho, me sentindo uma "foragida da lei". Andei muito, sem rumo, sem saber pra onde ir, na verdade me perdi, andei horas a fio. Acabei encontrando o açougue onde minha mãe comprava fiado, o açougue do "seu Panic" (não é assim que escreve), mas vamos ao que interessa, entrei, cumprimentei às pessoas e pedi 10 quilos de filé. O seu Panic me perguntou:
-Nossa! Tudo isso?
Eu:
-Sim, minha mãe vai fazer churrasco e pediu pro senhor marcar na caderneta, ah e também pro senhor me "emprestar" o dinheiro do ônibus e do sorvete!
Pronto tudo feito! Sai feliz com o dinheiro e com o pacotão de carne. Andei um bocado, várias vezes na mesma rua, na mesma calçada, até achar a rodoviária, mas minha satisfação era tamanha em estar longe da "pombinha". Tomei meus vários sorvetes, já que sobrou muito depois que comprei a passagem. Entrei no ônibus, triunfante com meu pijaminha verde de florzinhas laranjas, cheguei a cochilar, sonhar... Algum tempo depois cheguei no meu ponto, desci com dificuldade, afinal não é fácil carregar 10 quilos de carne. Andei duas quadras, avistei minha casa, na frente estava uma ambulância e um carro de polícia, meu coração chegou a disparar, meu Deus quem será que está doente? Ou quem será que foi preso? Esperei alguns momentos, até que saíssem. Entrei correndo chamando minha mãe:
-Mãe o que aconteceu, quem está doente? Quem foi preso? Olha o que eu comprei! Você faz um filé pra mim?
Minha santa mãezinha, me pegou de um jeito, nem vi como ela tirou aquele embrulho das minhas mãos, só sei que apanhei com um bom filé. Finalizando, apanhei, tomei banho e voltei pro hospital com um pijaminha velho, sem entender como uma atitude tão louvável me levou de volta. O mais triste foi ver na manhã seguinte aquela sala fria com janela baixa toda pregada com tábuas em xis.

2 comentários:

  1. ja tinha ouvido esta história, mas assim parece que ficou melhor! meu Deus, como vc era louca! criança, tudo bem, mas louca, louca, louca!! vc deveria ter ido para o hospício.

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