30 janeiro, 2012

Mente




Sentado ausente.
Depende, demente.
Crente que sente.
Esperança nascente.
O que vê aridamente.
É o sol ardente.
Corrente na gente.
Impedindo a semente.
Preciso quem me alimente.
Docemente, envolvente.
Preciso quem me encante.
De repente, no presente.
Serra a corrente.
Espalha a semente.
Fica sorridente.
Procura o ausente.
Chora com o poente.
Crê no presente.
Sente, sente...
Entre, ente, sente.
Mente.


Segue e surpreende. (Érica)




Pontas


Passei pela rua sem nada ver.
Ando em pontas, em agulhas.
Não vejo estrelas, não vejo ninguém.
Estou sem eu, estou cava.
Estou farta, não busco nada.
Não quero palavras vazias.
Não quero barulho.
Não quero nada para mim.
Se tiver que ser, só me quero volta.
Eu, como sou, ou como fui.
Se não der para ser assim.
Deixe-me apenas dormir.
Cansei de pisar, cansei.
Suas pontas feriram meus pés e coração.

26 janeiro, 2012

Vela


Vela acesa,
que foge do vento,
acende meu eu,
Clama, chama.
Vela acesa mobiliza
os olhos, o breu.
Vela acesa
faz lampejo como
o beijo.
Vela acesa vela e
chora.
Vela acesa traduz com 
sua luz minha dor.
Quieta, vive.
Quieta, brilha.
Quieta, cristaliza.
Quieta, apaga.
Quieta, quieta 
Morre.

Foto: Izabel Demarchi

24 janeiro, 2012

De vez em quando

De vez em quando ando descalço e acabo sentindo dor pelas pisadas em terrenos difíceis.
De vez em quando me calço de pés confiantes.
De vez em quando sou tanta coragem.
De vez em quando me deixo leve como uma folha ao vento.
De vez em quando me esvazio de todo pecado, como flor  nascendo na terra árida.
De vez em quando desacredito que exista tanta maldade.
De vez em quando planto espera em mim, acredito tanto que nasce uma árvore gigante chamada bondade.
De vez em quando sou criança, confiança.
De vez em quando deposito o meu bem em outro bem.
De vez em quando sonho um sonho novo.
De vez em quando acordo me decepciono e choro.
De vez em quando morro para alguém.
De vez em quando alguém morre para mim.
De vez em quando fujo de mim.


17 janeiro, 2012

Aço


Acabrunha e não me deixa.
Aumenta minha covardia.
Sinto-me temulento.
Os pensamentos são desconexos.
Não há comando, não há licença.
Irrefletido, mal pensado.
Gasto, menor, ínfimo.
Mas não perdido, não caçado.
Talvez aprisionado.
Alento é o que preciso.
Aço é o que entrou em mim.
Não enternece, não derrete.
Choro sangue, choro medo.
Aço que espreme.
Acaba, afunda.
Meu grito no silêncio não fala.
Não ecoa, não sai.
Preso, peso.
Aço: dor no peito.



12 janeiro, 2012

Quase infinitivo


Às vezes meu mundo é grande, imenso,  porém cabe inteiro em mim. De vez em quando corto algumas fatias, noutra ARde na pressa para não sentir o amARgor, já em outro mastigo devagAR feito doce, saboreando, aproveitando o momento feliz.


Em outras vezes meu mundo é pequeno, porém não cabe em mim. Emendo, remendo, espremo... e mesmo assim não há meio de eternizAR, entrAR...

Mundo lindo ou ilusão?

Será o mundo, serei eu? Onde me farei existir? Para onde e como fugirei daqui?


Vou colorir minha estrada, fazer paredes encantadas.

Rir, ir...


AmAR, desARmar, ARte, ARticular...


Mundo mARavilhoso.

CaminhAR, encontrAR, respirAR, criAR, depois descansAR .  

ARmadilhas, escapAR.

ARmar, amAR,remAR.

LutAR, matAR.

ARmagedom.



05 janeiro, 2012

Pequena

Pequena
tão branca
tão linda,
Classificar-te
é fácil,
amar-te é verdadeiro.
Sua felicidade,
Também me faz feliz
pelo que és,
pelo que vive...
Na vida
seja o que quiser e
além das estrelas,
alcance os sonhos.
Nunca desista
de ser feliz.

Eu te amo.


Para Marina.

Um anjo...




           Hoje fui caminhar sem rumo, sem compromisso. Com o coração um tanto apertado. Sentei-me em uma praça cheia de árvores, por alguns momentos fechei os olhos e me desliguei do barulho, do vaivém de pessoas. Fiquei ali me vendo por dentro. Confesso que senti certa  uma saudade de não sei o quê.

               Comecei conversar com um anjo inventado. Falei das árvores, das pessoas que passavam apressadas, falei das minhas dores, medos, falei da minha inocência perdida. Fiquei um bom tempo no maior blá-blá-blá. Quando a uns cinco metros, um rapaz entrou na conversa elogiando meus cabelos, depois falou do tempo, não do clima, mas do tempo em que não damos a nós próprios e das amarguras que guardamos ao invés de adoçarmos o coração.

Falou ele:

– Estive fora, andei por caminhos distantes e como sempre observei a falta que fazemos de nós é igual em qualquer lugar. Chega a certa altura que perdemos nossa leveza e atropelamos nossos sentimentos. Ficamos mais velozes na questão julgamento, na questão egoísmo e totalmente cegos para o nosso bem maior.

    Fiquei refletindo e querendo continuar ouvindo aquela voz mélica e clara. O que será o nosso bem maior?

Continuou ele:

– Encontrei-me com uma amiga, a pouco tempo, linda, bem vestida, culta e totalmente infeliz. Deixei-a falar, mas eram somente palavras amargas. Depois a abracei, como se abraça uma criança com medo. Eu lhe disse que ainda havia tempo para preencher aquele vazio, aquela tristeza. Como me perguntou ela? Comece adoçando o coração.

– Você sabe em que ocasião somos donos de nós? Quando começamos arquitetar nossos planos. Claro que muitas vezes eles não serão, outras vezes mudaremos os traços, noutra, as pessoas mudarão por nós. E nem por isso ou aquilo, devemos deixar o nosso lado amadurecido esquecer-se da criança que existe em nós. A criança faz muitos planos, sem medo.
Toda aquela fala parecia não fazer sentido, mas eu queria continuar ouvindo.

– Depois de muitas andanças procuro um refúgio, de preferência uma igreja, sem nome, não há necessidade de denominação e sim necessidade do meu coração em encontrar com o Dono de tudo.  Transbordo minhas carências e me deixo envolver pelo momento de me ver por dentro e me transbordo de amor e gratidão.

Num súbito abri os olhos. Que coisa estranha, eu estava na praça e o rapaz onde está? Será que adormeci? 

Caminhei levemente, o vento balançava os galhos e as folhas das árvores. Meu coração estava leve e doce.

Ao longe vi o rapaz acenando e tão rápido se foi.