18 abril, 2011

Será?!


Será?!


Saí nua pelas ruas, numa nudez estranha, sem pudor. Logo eu que sempre tive vergonha, mas mesmo assim fui falar com a natureza, perguntar o que falta ou o que está demais. Depois sentei no asfalto gelado; de frente para os carros, olhos abertos, coração pulando mais que o normal e me fiz de surda (mais surda). Em seguida entrei num bar, pedi a bebida mais pura: água mineral. Eu preciso mostrar minha lucidez, sem drogas, sem álcool... Talvez me vejam como louca ou sei lá o que! Eu preciso mostrar minha indignação para tanta falta de escrúpulos, de amor... Dá pra ser menos num mundo onde tudo é mais? Mais caro, mais rico, mais bonito, mais, mais...  O único mais que consigo é ser mais uma nas filas, na espera, na ilusão... E por falar em fila, lá estava eu na fila de um caixa de um supermercado. Sabe aquela promoção que lá na prateleira existe e no caixa não? Esse respeito está faltando muito por aqui. E a palavra, aquela que revela seu caráter, existe? Tive uma educação em que isso era fundamental, sim para o sim, não para o não – hoje ouço muito: talvez, mais ou menos, quem sabe... De repente assisto uma cena de um pai e filho (conhecidos meus) numa discussão tão baixa; senti vergonha, pena, tamanha foram as agressões físicas e verbais. Senti saudades dos meus dias com meus pais. Só de nos olharmos sabíamos o significado. Nunca íamos dormir sem o perdão, sem a benção. Quer amor melhor que esse? O que realmente falta é o direito de ir e vir, saber a hora de falar, calar. Tudo deveria ser como ir ao cinema: pago, entro, se não estou gostando, me retiro em silêncio, simples assim. Mas não, é como se os outros precisassem saber, ou ver o estardalhaço. E estou vendo isso: uma senhora fazendo o maior drama porque a vendedora não acha o número do sapato que ela quer. Porque o outro “fechou” o motorista do carro importado. Porque o garçom esqueceu o pedido. Porque o “delegado” se acha o “dono” do estacionamento. Porque o médico é “safado”. Porque o “político” cobra “algum”. Ando, a chuva começa a cair, a sujeira das ruas se acumulando e fazendo uma barreira, como de um combate.  Acho que estou em um mundo medonhamente estranho daquilo que deveria ser. Vejo “homens” matando por puro preconceito, por farra, ou simplesmente por não aceitar a opção de vida de outra vida. Estou com frio, medo e tudo parecem longe demais da minha casa e é lá que eu deveria estar. Vejo-me tentando atravessar a rua e o barulho da tempestade atrapalha meu andar. Viro, vejo água por todo lado, carros, casas, pessoas como folhas ao vento. Corro em direção contrária. O medo me consome, minha voz não sai... Entendo minha nudez. Estou friamente morta para o mundo. Não posso suportar tamanha destruição... Mas o medo congela meus olhos, começo a suar, tremer... Socorro! Ajudem-me, não sei pra onde ir, não tenho no que me agarrar. Tudo é muito estranho; vejo pessoas caindo, sangue, destruição... Acordo! Com o coração saindo pela boca. Graças a Deus foi apenas um sonho ruim, um pesadelo. Será?!

6 comentários:

  1. será pura imaginação?
    será tudo em vão?
    Será que o sol sairá a noite?
    Com certeza a música é a idéia que não morrerá, despertando em nos a alegria de viver.
    O Viver esta em cada um de nós, muito falam e não dizem nada, outros calados dizem muito, ensinam, cativam, são solidarios, não tem interesse, são puros.

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  2. A injustiça é uma das coisas mais terríveis que pode existir para uma sociedade. Tudo o que ocorre de mau, envolve injustiça.

    O que será Justiça?

    justo é dar a cada uma o que lhe é devido.
    E O que se deve ao outro, em qualquer situação, é respeito.

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  3. Esse seu pesadelo é muito real...
    Vamos cada qual fazendo o que nos cabe, né? Quem sabe teremos um mundo melhor.

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  4. Parece cena de filme!!
    Mas gostei muito, como sempre.

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  5. Concordo que pesadelo real, heim?
    Vale dizer que estamos na beira de um caos e só nos resta ter fé...

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Receberei seu comentário com muito carinho. Obrigada!