23 maio, 2011

O pão e a coincidência

        Coincidências?

        Quando eu e meu irmão decidimos alugar uma casa e morar juntos, eu não imaginava que seria tão difícil. Nós dois morávamos com nossos tios e já estava na hora de cuidarmos de nossas vidas. Lá fomos nós, alugamos uma bela casinha, de um quarto, uma despensa onde fizemos nosso closet (não tínhamos dinheiro para o guarda- roupa), copa, cozinha, banheiro e um pequeno jardim. 
          Para conseguirmos locar esse imóvel, precisamos adiantar três meses de aluguel, comprar um fogão, um armário de cozinha, dois colchões, havia ainda outras despesas, como água, luz...  Era preciso reajustar, equilibrar muitas coisas. 
        Eu trabalhava numa seguradora ligada a um grande banco e não podia, em hipótese alguma, soltar cheque sem fundo, claro que não o faria, pois preso muito meu nome. Meu irmão trabalhava em uma oficina mecânica, onde ele almoçava e eu tinha vale refeição, que precisei vender para cobrir minha conta-corrente, sem o meu irmão saber é claro. 
        À noite comíamos pão (na verdade eu só comia pão) e apesar das dificuldades financeiras estávamos felizes, tudo era uma questão de tempo para colocarmos tudo em ordem. De manhã eu passava na padaria e comprava dois pães, que evidentemente era meu almoço.             Numa certa manhã, depois de comprar os pães, um garotinho me pediu dinheiro, pois estava com fome, eu respondi que não tinha, mas que lhe daria um pão; afinal eu sabia o que era fome. Um casal nos observava, mas não dei importância, segui para o trabalho. Era difícil todo dia dar uma desculpa para não sair com o pessoal para almoçar. Lá ficava eu com meus pães, nesse dia fiquei com apenas um, mas excepcionalmente não senti fome, nem tristeza.                         A coincidência (será?): chega um casal, o mesmo da padaria, pedindo informação sobre um determinado seguro, valor e a data. Eu não poderia ajudá-los, pois quem poderia fazê-lo era o meu chefe que saiu para almoçar e não retornaria, pois iria viajar, mas me deu um "clic" e me questionei, por que não? Entrei no sistema e passei todas as informações, afinal eles eram os beneficiários. Eles me agradeceram e saíram aparentemente felizes com a notícia. 
     No dia seguinte, não passei na padaria, decidi que na hora do almoço iria caminhar e comprar uma fruta, resolvi mudar meu cardápio. Voltando para o trabalho, encontrei em minha mesa uma cesta de pães de várias tamanhos, formas e um envelope fechado. Nele um bilhete que dizia:

Querida,

       Não é um pagamento e sim um agradecimento, vimos você na padaria dividir o pão com um garotinho e isso nos comoveu. E para a nossa surpresa,  logo depois é você quem nos informa  um assunto positivo, que dávamos como perdido, e não é só isso, sentimos em nossos corações, aceite! 

       Eu não sabia se ria ou chorava, um cheque nominal (nos dia de hoje seria mais ou menos R$ 5.000,00) e aquelas pães! Era como um sonho, uma visão. Em nenhum momento senti que não deveria aceitar. 
    Sai do trabalho um pouco mais cedo, passei no banco, fui ao supermercado, imaginem a compra que fiz. 
     Assim, com as contas em ordem, pude voltar à minha vida normal. Agradeci a Deus. Tentei várias vezes ligar para o casal, tínhamos o número na apólice, mas nunca consegui. 
       O tempo passou, e quando eu já havia me casado, fui com meu marido em um jantar, justamente na casa do "casal" (a coincidência de novo) –  senti a mesma alegria e   finalmente pude agradecer e contar a eles o quanto me ajudaram. Em nenhum momento eles aceitaram a devolução do dinheiro, mas aceitaram a minha eterna amizade.

    

9 comentários:

  1. Drie,

    Sabe o que é isso??

    Deus conhece as almas nobres, as almas boas.
    Você não tinha pão, e mesmo assim não foi egoista, dividiu com quem também tinha fome.
    Só as almas nobres fazem isso.
    Muitas pessoas fechariam os olhos e deixariam o menino falando sózinho.

    E Deus agiu na sua vida, grandemente.

    Minha querida, deixo um abraço imenso pra ti!!!

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  2. Como é bom ver a resposta à nossa esperança.

    Beijo

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  3. simoneantunes06@gmail.com24 de mai. de 2011, 11:07:00

    Mais uma lição de fé, esperança...
    Mais uma história linda!

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  4. Suas histórias encantam, falam, ensinam...
    Vc consegue sempre me emocionar.

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  5. Dri, que relato lindo...estou aqui chorando de emoção, talvez esteja mais do que sensível hj?
    Obg pelo carinho pela compra dos livros, pela força, e, espero que tenha e goste da leitura...
    Uma boa semana! Bj*

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  6. Relato e retrato lindo.
    Você tocou mais uma vez minha alma...

    Sampaio.

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  7. Ótima história para começar a semana! é por isso que deixo para ler seu blog e algumas histórias em momentos diversos, inspiram, alegram, trazem reflexão a cada leitura.

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  8. Essa história é real e comovente. Por isso não podemos esquecer tudo que Deus fez e fará por nós.

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  9. oi isto vai sair como anonimo, mas sou eu. a Míriam
    tenho certeza que Deus tem abundantes benções pra vc, história linda, atitude linda,amiga linda
    bjus

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Receberei seu comentário com muito carinho. Obrigada!