Bicho
Em um lugar sem nome e sem dono viviam muitos bichos. Isso mesmo, bichos, eles também não tinham nomes. Mas o lugar era de uma beleza
sem igual, de rios limpos, flores, árvores, frutos e um ar puro.
Até que um dia, um dos bichos, que era grande,
forte e tinha uma juba resolveu ser o rei. Assim, falou ele:
– De hoje em diante quem manda aqui é eu!
A bicharada ficou estarrecida. Foi então, que
um bichinho pequeno, branquinho de dentes saltados e orelhas grandes, falou:
– Só se você lutar comigo
e vencer!
É claro que o bicho de juba ganhou a luta.
Então outro bicho, até bem grande quanto o de juba, quis
lutar. Foi uma luta demorada, pois o bicho era forte e de vários dentes grandes
e uma boca que abria e fechava, mas seu couro cheio de relevo, dizem a bichada,
o fez perder a luta.
Enfezado um próximo bicho propôs uma competição, o primeiro
de ganhasse uma corrida, seria o líder.
Assim, ao sinal de um som de um bicho de penas brancas que
voava com um raminho no bico, foi dada a largada.
O bicho “jubento” nem fez muito esforço, pois o outro bicho
não chegou longe, devido aos cascos quebrados nas pedras do caminho.
O suposto rei fez um apelo:
– Quem será agora minha vítima?
Não é que um bicho cheio de pequenas e que comia milho
apareceu.
A luta mal começou e terminou somente com o rugir o bicho
grande.
– Ah! Isso não vai ficar assim, disse um bicho parecido com
o último, a diferença é que este tinha crista na cabeça, talvez por isso se “achava”
capaz de ser rei.
Mero engano! Ele bem que ciscou, correu e pulou, mas de nada
adiantou. O grandão venceu fácil.
E assim, o bicho grande se tornou rei. Mas todos os outros
bichos eram livres e viviam em harmonia no paraíso verde.
Até que apareceu um bicho bem diferente e se dizia chamar
homem. Este começou a chamar o lugar de Terra e a chamar a bichada de
animais. Prendeu o bicho grande e muitos
outros bichos num lugar de nome zoológico. O homem deu ao bicho-rei o nome de
leão. A outros bichos, disse o homem,
seria de estimação. Mas a maioria dos animais foi presa ou sacrificada.
Ao bicho branco peludo de orelhas grandes e dentes saltados,
deu o nome de coelho. O homem disse ao coelho:
– Seu pelo dará um excelente cobertor! O pobre coelho não
sabia o que isso significava.
O bicho grande de couro estranho se escondeu no rio, mas o
homem o caçou e tirou seu couro e fez sapatos para seus pés e bolsa para
carregar bugigangas.
Ao bicho, que propôs a corrida, deu o nome de cavalo e fez a
ele uma espécie de calçado nas patas – gesto nobre até então – e o fazia puxar
um caixote de madeira carregando-o para cima e para baixo, fora as mercadorias
pesadas, fosse noite, fosse dia.
O bicho que voava com um raminho no bico, passou a se chamar
pombo-correio e em troca de comida levava em seu bico recados por toda a
redondeza.
Ao bicho de penas deu o nome de galinha, que perdeu suas pequenas
por algo com nome de travesseiro, além de ter a promessa do homem de que ela
seria almoço de qualquer domingo.
O último bicho que lutou com o agora chamado leão, foi
chamado de galo e incumbido de toda manhã bem cedo, faça sol, faça chuva,
acordar o homem, mas o pior é que o pobre era obrigado a lutar com os mesmos de
sua raça, pois isso era diversão.
Depois disso o bicho, digo, o homem passou a mandar em tudo.
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