02 janeiro, 2021

Bicho

 

 Em um lugar sem nome e sem dono viviam muitos bichos. Isso mesmo, bichos, eles também não tinham nomes. Mas  o lugar era de uma beleza sem igual, de rios limpos, flores, árvores, frutos e um ar puro.

Até que um dia, um dos bichos, que era grande, forte e tinha uma juba resolveu ser o rei. Assim, falou ele:

– De hoje em diante quem manda aqui é eu!

A bicharada ficou estarrecida. Foi então, que um bichinho pequeno, branquinho de dentes saltados e orelhas grandes, falou:

– Só se você lutar comigo e vencer!

É claro que o bicho de juba ganhou a luta.

Então outro bicho, até bem grande quanto o de juba, quis lutar. Foi uma luta demorada, pois o bicho era forte e de vários dentes grandes e uma boca que abria e fechava, mas seu couro cheio de relevo, dizem a bichada, o fez perder a luta.

Enfezado um próximo bicho propôs uma competição, o primeiro de ganhasse uma corrida, seria o líder.

Assim, ao sinal de um som de um bicho de penas brancas que voava com um raminho no bico, foi dada a largada.

O bicho “jubento” nem fez muito esforço, pois o outro bicho não chegou longe, devido aos cascos quebrados nas pedras do caminho.

O suposto rei fez um apelo:

– Quem será agora minha vítima?

Não é que um bicho cheio de pequenas e que comia milho apareceu.

A luta mal começou e terminou somente com o rugir o bicho grande.

– Ah! Isso não vai ficar assim, disse um bicho parecido com o último, a diferença é que este tinha crista na cabeça, talvez por isso se “achava” capaz de ser rei.

Mero engano! Ele bem que ciscou, correu e pulou, mas de nada adiantou. O grandão venceu fácil.

E assim, o bicho grande se tornou rei. Mas todos os outros bichos eram livres e viviam em harmonia no paraíso verde.

Até que apareceu um bicho bem diferente e se dizia chamar homem. Este começou a chamar o lugar de Terra e a chamar a bichada de animais.  Prendeu o bicho grande e muitos outros bichos num lugar de nome zoológico. O homem deu ao bicho-rei o nome de leão.  A outros bichos, disse o homem, seria de estimação. Mas a maioria dos animais foi presa ou sacrificada.

Ao bicho branco peludo de orelhas grandes e dentes saltados, deu o nome de coelho. O homem disse ao coelho:

– Seu pelo dará um excelente cobertor! O pobre coelho não sabia o que isso significava.

O bicho grande de couro estranho se escondeu no rio, mas o homem o caçou e tirou seu couro e fez sapatos para seus pés e bolsa para carregar bugigangas.

Ao bicho, que propôs a corrida, deu o nome de cavalo e fez a ele uma espécie de calçado nas patas – gesto nobre até então – e o fazia puxar um caixote de madeira carregando-o para cima e para baixo, fora as mercadorias pesadas, fosse noite, fosse dia.

O bicho que voava com um raminho no bico, passou a se chamar pombo-correio e em troca de comida levava em seu bico recados por toda a redondeza.

Ao bicho de penas deu o nome de galinha, que perdeu suas pequenas por algo com nome de travesseiro, além de ter a promessa do homem de que ela seria almoço de qualquer domingo.

O último bicho que lutou com o agora chamado leão, foi chamado de galo e incumbido de toda manhã bem cedo, faça sol, faça chuva, acordar o homem, mas o pior é que o pobre era obrigado a lutar com os mesmos de sua raça, pois isso era diversão.

Depois disso o bicho, digo, o homem passou a mandar em tudo.

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