Santidade
E
chega o momento de dizer adeus sem nenhuma palavra.
As lágrimas
descem pela minha face, chegando à minha boca, mais salgada que a água do mar,
mistura-se com minha saliva e deixa um gosto cítrico dentro de mim. Penso em
beber algo, talvez um café e pensando que o café era sua bebida preferida.
Desisto de beber, desisto de querer mudar o momento estático da nossa
despedida. Talvez seja somente minha, mas talvez você me veja de algum lugar. Gosto
de pensar que Deus permite isso.
Nos momentos de praxe para o fechamento eterno,
retorno lá no nosso começo de perguntas santas e respostas prontas de alguém
que aos meus olhos, tudo sabia ou sabe. Tudo objeta de um jeito particular e
com um humor que me encanta e me acompanha até aqui, nesse momento.
Se eu fosse forte o suficiente te pegaria no colo e
sairia correndo como uma onça faminta que corre atrás da presa. Não posso,
estou frágil, estou pensando em sua resposta para a pergunta que faço em
pensamento: Por que você já vai? Tão cedo, tão logo? Meu adágio responde com
descrição exata de um minuto transformado em uma vida inteira: A sua vida. Aquela
que plantou árvores; pescou mais peixe que qualquer pescador profissional;
contou histórias de pessoas reais e alegrias verdadeiras; que ajudou o próximo
sem nunca deixar saber que era você era você o ajudador; que viajou para uma
aventura crucial e ao mesmo tempo banal, banal para ti, crucial porque te levou
daqui. Maldito acidente!
Mas como você sempre falava, a vida é breve e a
morte não dorme e quem nos leva, aguenta o peso e acerta a hora, sem mais, sem
menos. Enquanto aceso eu mesmo me carrego, ninguém sabe mais da gente do que a
gente mesmo. É assim que se vive até o momento que alguém precisa nos carregar.
O que te leva, não são as pernas, mas as mãos que sempre querem tocar o
concreto.
O toque que damos é o que fica. Pensando, pensando
cheguei à conclusão que mais uma vez você estava certo, agora que não são as
suas pernas que te leva, mas as mãos dos amigos. Eles choram, estão todos
tristes.
E o adeus que sua boca fechada me fala, sem nenhum
som, sem nenhuma expressão me deu as melhores palavras que pude ouvir. Porém,
minha maior angústia é saber que não fui nem a metade daquilo que você foi para
mim. Pensando, pensando, sei o que você me diria: Seja feliz!
E como lhe dar adeus, sem morrer também?
Pensando, pensando me respondo: Aprenda a sorrir com
a alma, essa seria a sua resposta. Então seco as lágrimas e sorrio sentindo
dor, muita dor, mas você demonstraria por mim a mesma e viva imagem de um amor
eterno, porque vivemos o mais próximo da santidade: pai e filho.