25 janeiro, 2011

A rosa

Sabe aquela noite em que o sono não vem? Tentei ler, ver TV, escrever e nada! Quando finalmente adormeci já era hora de levantar, ou melhor já havia passado do horário, eu estava atrasada; corri feito louca, não tomei café, coisa que me deixa com um mau humor terrível. Cheguei com mais de uma hora de atraso e claro que levei uma bronca do meu chefe. Enfim, suspirei e fui olhar minha agenda: a reunião com os clientes que iriam comprar a cobertura... Iriam! Liguei para eles, me desculpando e tentando agendar um novo horário, mas eles me disseram que esse meu não comparecimento era um "aviso" para não fechar o negócio. Que dia! Uma sexta feira, véspera de sábado e um feriado na segunda e, é claro que eu não queria "pegar" o plantão de vendas desse final de semana; fiquei atenta esperando a escala e quando finalmente saiu, corri pra ver, tropecei, cai feito uma "jaca" - todos os colegas fizeram um concerto quase sinfônico de risos e gargalhadas...  E lá estava meu "santo nome" - ui que raiva! Toca meu celular, meu gerente me lembrando que eu teria que cobrir meu saldo devedor. Como? Pensei eu. Garanti que na terça o faria. Bom, vamos lá, força! Levantei para pegar um café, pois estava em jejum, claro que derrubei na minha roupa, que por sinal era nova e nem havia pago ainda, tentei lavar na pia do banheiro, ficou menos ruim; me olhei no espelho parecia uma assombração, com umas olheiras, pálida... Deixa eu fazer uma maquiagem para ver se melhora. Disfarçou um pouquinho, voltei para minha mesa, fui abrir meus e-mails, e mais uma surpresa ruim: meu namorado terminando comigo, pensem! Pela Internet! Minha maquiagem foi por água abaixo. Não  pelo término em si, mas pela forma. Reaja! Voltei para o banheiro e novamente me arrumei.
Enfim, hora do almoço, não quis a companhia de nenhum colega, eu precisava ficar sozinha, chorar mais um pouco  senão sobraria para alguém. Dei um tempo e fui para um restaurante que eu sabia que estaria meio vazio, e a duas quadras dali começou a chover e, claro, me molhei. E o que era ruim (minha aparência) ficou bem pior. Meu cabelo parecia "macarrão al dente", minha roupa com àquela quase mancha de café ficou mais visível... Sentei na primeira mesa, logo de cara pedi um drinque, coisa que nunca faço, mas eu precisava, juro! Meu coração estava estranho, quase gelado. Foi quando veio em minha direção uma moça, com umas rosas nas mãos, eu nem deixei ela falar, de cara fui falando: por favor não quero comprar nada, não me enche, me deixe em paz, que coisa que um ser humano não tem o direito de sossego?! Sempre tem alguém como você pra piorar a situação com essas porcarias de rosas! As mesas em volta nos olhavam com expressões diversas. Me levantei e fui ao toalete. Mas, minha vontade era voltar lá e falar mais um monte de asneiras, jogar nela toda minha raiva. E foi isso que eu fiz, voltei. Mas ela já tinha ido, em cima da mesa estava uma rosa e um papel dobrado. Não me dei o trabalho de ler, pedi a conta e sai apressada. Quer saber? Vou pra casa, que se dane o trabalho, o chefe, o mundo... Tudo que eu queria é me deitar, olhar para o teto e chorar. Foi o que fiz, dormi. Quando acordei estava tudo escuro, não sei quantas horas chorei, quantas horas dormi, só sei que eu parecia vazia.
O telefone tocou, não atendi, meu celular idem. Decidi que ficaria ali, quieta, não queria falar, nem ouvir ninguém, mas eu era obrigada a ouvir a música que vinha do apartamento ao lado. Eu tentava não prestar atenção na letra, mas não tinha como, era assim: se agora você chora, depois vai sorrir... Era isso. Eu não era a primeira que teve um dia ruim, que se atrasa; perde um negócio; mancha a roupa nova; estoura o limite do banco; cai; leva um fora do namorado... Fui pro banho, com o coração menos gelado. Deixei a água quente lavar meu corpo e minha alma. Sai do banho me sentindo um pouco melhor, resolvi ver meu celular e tinha uma mensagem: amanhã sábado, estaremos no seu escritório para fechar a compra da cobertura, sem falta... Li, reli, enfim uma notícia boa. Meu chefe liga em seguida, me perguntando: "O que houve? Já tentei falar contigo várias vezes! Como vai sair "aquela venda" pela manhã, logo em seguida você poderá aproveitar o final de semana com o feriado. Desculpa pela bronca!" Meu queixo só não caiu porque segurei com as duas mãos. Finalmente o meu dia ruim estava terminando e quase não me lembrava do ex. Resolvi arrumar minha bolsa, encontrei a rosa e a folha de papel, como elas foram parar ali?  Não sei, acho que na hora do "chilique" peguei sem perceber. Li: "Sei que não te conheço, mas isso não tem importância, porque depois de tantos dias amargos que passei o que vale é cumprir minha promessa. Prometi que assim que eu tivesse alta de uma doença terrível, eu daria uma rosa para quem parecesse estar sofrendo e vi em você muito sofrimento. Só queria que você soubesse que  para tudo existe um fim e para vida existe muitos caminhos, um deles é Deus e o outro é um bom amigo. Eu só queria lhe oferecer uma rosa e minha amizade." Chorei muito mais do que antes, um choro que saia diretamente da alma. Como pude ser tão insensível, tão cruel? Quem que não passa, vez ou outra, por situações difíceis? Tudo que eu precisava fazer com urgência era achar aquela moça... E o fiz, perdi perdão e nos tornamos grandes amigas. Hoje não deixo "qualquer coisa" estragar meu dia.
Foto: Marina Antunes Polak.

5 comentários:

  1. uau, legal!
    hahaha ai mãe.
    esse conto está bem bonito, pena que não dá pra ir pro concurso... mas força na criatividade ai.

    mesmo com todas as tempestades... Deus nos deu milhares de motivos pra continuarmos sorrindo! te amo!

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  2. IRRITAÇÃO, EUFORIA, DESPREZO, CONFORTO, AMIZADE, RAIVA, TERNURA.
    QUE DIA HEIM, QUEM JÁ NÃO TEVE UM DIA ASSIM, QUE VONTADE DE TER FICADO NA CAMA.
    A NOITE VEM E UM NOVO DIA COMEÇA, RENOVADO POIS O QUE PASSOU, PASSOU.
    ESPERO QUE QUEM LER ESSE CONTO POSSA TAMBÉM REFLETIR SUA MENSAGEM, MUITO BONITA.

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  3. esse dia teria tudo para ser um legítimo "dia de cão", mas qual hein?! que desfecho lindo! bom, as vezes a gente acha que somos a maiorvítima das catástrofes humanas,naturais, acidentais e enfim... mas as vezes é mesmo preciso um "tapa na cara" desses pra nosmostrar que a na real poderíamos estar pior, mas não estamos. como diz uma amiga minha "só não tem jeito pra morte" pro resto, a gente levanta, sacode a poeira e sempre sai do turbilhão bem mais esperto do que entrou.

    BjãO

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  4. Que conto lindo!
    É isso ai: levanta e sacode a poeira...
    Continue escrevendo, estamos na expectativa!!
    Bjus.

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  5. Quem nunca teve um dia desses, não é...
    "O importante não é o obstáculo que nos derruba, e sim, a força que nos faz levantar e mudar a história..."

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Receberei seu comentário com muito carinho. Obrigada!