03 janeiro, 2011

Férias, Pescaria e a Lição

Férias é sinônimo de não fazer nada ou fazer somente o que não custa esforço, tempo, ou ainda fazer somente o que se dá prazer, alegria... Isso quem me ensinou foi meu pai.  Me lembro de nós (eu e meus irmãos) ainda crianças, quando pegávamos férias, ele nos proibia de usar relógio, não tínhamos horário para nada, comíamos quando tínhamos fome, dormíamos  o tempo que quiséssemos. Eu lia um livro atrás do outro, misturando uma história na outra, mas o que mais gostava, não só eu, como meus irmãos era pescar, claro com a presença e autoridade do nosso pai, que tudo sabia nesse assunto. E também os amigos dos amigos, (aparecia cada figura), todos na ânsia de participar da alegria que era estar com ele. Todos os preparativos eram de maneira corretamente elaborada, redes, tarrafas, varas, anzóis, barracas, caixa de isopor, mantimentos, carvão, carnes e muitas bebidas. Tudo era pura euforia, claro que só iam homens e os meninos fazendo de conta que eram gente grande, mas todo o ritual era de pura magia. Eu ia até o sitio dos meus tios em Guapirama e os demais seguiam para o rio (Cinzas), de vez em quando eu e minhas primas davamos uma chegada até lá, só pra ver a farra, os peixes e com certeza os "meninos".
Nessas idas para o rio, uma vez meu pai permitiu que eu fosse e ficasse com eles, várias vezes tentei pescar e nada. Todos pegavam, menos eu, me sentia frustrada e a todo custo eu queria mostrar a meu pai que eu sabia pescar. Andei na beira do rio, quase chorando, até que achei um peixe morto, já em decomposição, mas finalmente pude gritar dizendo que havia pego um, claro que não tive dificuldade para colocá-lo no anzol, mas confesso tive um nojo. O que eu queria realmente era  impressionar meu pai e eu estava certa que havia conseguido, até que  algum tempo depois ele veio com um prato e um peixe frito pra eu comer, eu disse que não queria, ele insistiu, mas eu me lembrava daquele peixinho liso, cheirando mal, (ui que nojo). Como eu poderia confessar que não pesquei, que eu o enganei. Eu não poderia comer aquilo e olha que eu gosto de peixe. Relutei e fiquei calada, foi então que ele disse que comeria o peixinho que a "filhinha" dele "pescou". Não pude permitir, não era justo, afinal eu havia trapaceado, enganado meu pai. Gritei, confessei mas não deu tempo, numa bocada só, engoliu o bicho, chorei um monte, pedi perdão com vergonha da minha atitude. Ele feliz com um sorriso maior que tudo me falou que aquele não era o meu peixe e sim o dele, porque o meu estava tão "passado" que desmanchou-se. O que ele realmente queria era me dar uma lição e conseguiu. Até hoje, muitos anos depois me lembro disso e choro de rir, não se engana um pescador, muito menos alguém que tinha fama ser o "boi d'água".


* Hoje é aniversário do Daniel, meu irmão que acompanhou meu pai em muitas pescarias...
Feliz níver, feliz vida!

3 comentários:

  1. saudades do boi d'água né mãe?
    todas suas histórias, todas as suas lições...
    sua sabedoria e paciência.

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  2. Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não encontramos em nenhum outro lugar...

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  3. Se todos tivessem o privilégio de ter um pai como vc teve, o mundo seria muito melhor... mas vale a lição!

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Receberei seu comentário com muito carinho. Obrigada!