Quando você se foi e me deixou a pé
na estrada empoeirada, o sol já se punha na baixada da montanha e a lua
sorridente mostrava que estava pronta para se apresentar, embora fosca, mas
grande, muito maior que eu, muito mais dona da situação. Fiquei com a mudança
das nuances.
Pensei o que fazer quando não há o
que fazer, somente observar o quão forte a noite me faz. Desatei meu riso
cínico com os cabelos tão soltos quanto eu. Conforme a noite ia se instalando,
minha sombra ia aumentando, parecendo prússica de tão ácida, a única semelhança era a imensidão do silêncio.
Ninguém aparecia, ninguém me via;
vaguei feito assombração. Cansei, parei em uma curva, lamentei por não existir
contramão. Não existiam marcas de ir e
vir, nenhuma sugestão. Ainda assim, à noite na minha companhia, tão minha, tão
eu, parecíamos únicos. Desde então, à noite me reserva solidão. Uma solidão a dois, eu e ela, numa
cumplicidade calada, mas falada no meu ínfimo.
Vi-me como sou, sem retentiva, mas
tão acessível ao meu próprio coração, com uma certeza que posso passar o dia
esquecendo que você não me espera, mas a noite será minha insólita ilusão,
talvez porque eu queira ser a sua espera, talvez porque à noite abafo meu grito
ou derramo as cores de fúcsias.
Minha esperança é que a noite nos
reserve o mesmo pensamento:
Que você pense em nós.